É Siri, É Bebê, É Corda
Ilustração Yumi Fujita
Ele veio me seguindo pela praia. Atravessou a rua, desviou dos carros. Eu só espiava. Ele vinha atrás.
O siri não tem cama. Dorme na tigela de comida do cachorro.
E o cachorro tem medo do siri porque já levou um beliscão no focinho.
Eu não sei o que o siri come, nem o que ele bebe.
Mas ele continua vivo e mora nessa casa faz tempo. Acho até que engordou.
Minha mãe também engordou.
Eu perguntei para minha mãe:
- O que tem aí dentro da sua barriga?
Ela respondeu com uma cara toda feliz:
- Um bebê. Seu irmão.
Eu fiquei lembrando do siri e fiz outra pergunta:
- Será que o siri também tem um bebê na barriga?
Minha mãe fez cara de quem não sabia o que dizer. Mas disse:
- Ah, siri não. Siri põe ovo.
- E você não põe?
- Claro que não!
- Você tem certeza que o bebê tá dentro da sua barriga, mãe?
- Tenho, filho.
- E por que você comeu ele?
Minha mãe deu uma gargalhada. Me abraçou bem comprido e disse que ia me explicar tudo, tintim por tintim, mais tarde.
Ela falou assim: tintim por tintim.
Então, eu me esqueci do siri, do bebê e só pensei:
"Tintim é o barulho que os copos fazem quando os adultos batem um contra o outro em dia de festa!" Aí comecei a lembrar do meu aniversário...
Por que será que meu pensamento pensa desse jeito?
Quer dizer, por que ele fica pulando de uma idéia para outra sem parar?
Aliás, por falar em pular...
Alguém quer pular corda comigo?
Quem é quem
Milu Leite, autora deste conto, é jornalista. Nasceu em São Paulo e mora em Florianópolis desde 1999. Estreou na literatura com o livro O Dia em Que Felipe Sumiu (80 págs., Ed. CosacNaify, tel. [11] 3218-1444, 30 reais), que lhe valeu o terceiro lugar no Prêmio Jabuti 2006 na categoria juvenil.Yumi Fujita Taminato, que ilustrou esta página, nasceu em Itatiaiuçu (MG) e mora em São Paulo há sete anos. Formada em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais, cursou especialização em escultura na Universidade de São Paulo.
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