Andarilhos
Ilustração: Ivan Zigg
Andava pela estrada, sozinho. Um sol de rachar e os dois andando, sem parar. E andando, resolvidos, iam os três desenxabidos.
Os quatro não andavam à toa: buscavam uma terra boa.
Com os pés doendo de tanto andar, os cinco pararam para descansar.
E os seis se deitaram, dormiram, sonharam...
No meio da noite, os sete acordaram e se arrepiaram.
Dezesseis olhos arregalados, brilhando, viram o rio iluminado, o chão iluminando.
Cavando a terra, dezoito mãos traziam, com a respiração ofegante, dezenas de pedrinhas brilhantes.
Depois de muito cavar, contar e reunir, os dez começaram a discutir.
O centro da discussão era este: onze andarilhos podem suportar tantos brilhos?
Uma dúzia de idéias diferentes, uma ou outra interessante, mas nenhuma idéia brilhante.
Com as palavras doendo de tanto falar, os treze resolveram si-len-ci-ar.
Deitados, silenciosos, os catorze buscavam uma nova rima, quando olharam para cima...
Boquiabertos, ao som de quinze admirações, descobriram estrelas candentes, candentes em grandes porções e proporções.
E aquelas dezesseis imaginações tropeçaram nas mesmas conclusões...
As pedras são farelos de estrelas, dezessete vezes pensaram e dezessete vozes exclamaram.
E declararam os dezoito andarilhos, acostumados a vagar de déu em déu: Essa terra tem parentesco com o céu.
E dezenove caminheiros decidiram fincar o pé e se estabelecer: De agora em diante, aqui vamos morar, aqui vamos viver.
Vinte vezes festejaram, quando uma voz desfestejou: Continuarei caminhando. Adeus. Já vou.
E deste que se foi, ligeirinho!, posso dizer apenas que ele.
Andava pela estrada, sozinho.
Os quatro não andavam à toa: buscavam uma terra boa.
Com os pés doendo de tanto andar, os cinco pararam para descansar.
E os seis se deitaram, dormiram, sonharam...
No meio da noite, os sete acordaram e se arrepiaram.
Dezesseis olhos arregalados, brilhando, viram o rio iluminado, o chão iluminando.
Cavando a terra, dezoito mãos traziam, com a respiração ofegante, dezenas de pedrinhas brilhantes.
Depois de muito cavar, contar e reunir, os dez começaram a discutir.
O centro da discussão era este: onze andarilhos podem suportar tantos brilhos?
Uma dúzia de idéias diferentes, uma ou outra interessante, mas nenhuma idéia brilhante.
Com as palavras doendo de tanto falar, os treze resolveram si-len-ci-ar.
Deitados, silenciosos, os catorze buscavam uma nova rima, quando olharam para cima...
Boquiabertos, ao som de quinze admirações, descobriram estrelas candentes, candentes em grandes porções e proporções.
E aquelas dezesseis imaginações tropeçaram nas mesmas conclusões...
As pedras são farelos de estrelas, dezessete vezes pensaram e dezessete vozes exclamaram.
E declararam os dezoito andarilhos, acostumados a vagar de déu em déu: Essa terra tem parentesco com o céu.
E dezenove caminheiros decidiram fincar o pé e se estabelecer: De agora em diante, aqui vamos morar, aqui vamos viver.
Vinte vezes festejaram, quando uma voz desfestejou: Continuarei caminhando. Adeus. Já vou.
E deste que se foi, ligeirinho!, posso dizer apenas que ele.
Andava pela estrada, sozinho.
Prosa poética de Francisco Marques (Chico dos Bonecos), ilustrada por Ivan Zigg
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