quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Paisagem de Brodósqui

Paisagem de Brodósqui

Ilustração: Ivan Zigg
Ilustração: Ivan Zigg
Paisagem de Brodósqui,
a terra manjedoura,
roxeada, avermelhada,
matriz duradoura
do menino Candinho.
Poeta dos pintores,
escreveu em cores
momentos da infância

na tela acordada.
Um baú de histórias coloridas
na lembrança, reunidas
no quadro, imagens
recorridas.
O papagaio de papel
no imenso azul do céu...
O descanso de um boizinho

num pacato povoado.
Um especial bauzinho
na areia depositado.
Um cavalo apressado
Por um homem montado.
Uma modesta igrejinha,
num vilarejo, abençoada
pelas mãos pintoras
do Candido menino,

Portinari consagrado,
estrela a brilhar
no cenário da pintura
universal, brasileira.
Poema de Fátima Miguez (extraído do livro Paisagens Brasileiras, publicado pela Ed. DCL), ilustrado por Ivan Zigg

sábado, 26 de novembro de 2011

Poema para Dalí

Poema para Dalí


Ilustração: André Davino
Ilustração: André Davino
Era uma vez
Um sonho de menino.
Estranho,
Versátil,
Admirável.

De repente, o tempo não existia mais.
Tinha parado,
Congelado,
Suspendido.

O relógio começou a escorregar por entre as suas mãos
E o tempo foi derretendo.
O menino então falou comigo:
“Eu penso, eu digo e falo
O que vem na mente.
E você sente”.

Juntos, escrevemos automaticamente
Tudo o que vem à cabeça
Sem censura
Nem suspiro.
A gente se entende.

As imagens que surgem do texto são bonitas.
Surgem Dalí e daqui.
Têm sol, têm mar, têm casas e árvores
E têm gente estranha.

As cenas são improváveis
E o ritmo é de um sincopado que não existe,
Nem nas mais exóticas músicas que ouvimos.
Apenas sonho de meninos?

Se eu fosse um artista
Surrealista
Eu também sonharia assim.
Perguntaria teu nome
E no meio da fome
Pediria pra você ficar e pintar comigo.

Eu iria me nutrir da tua mão de chocolate
E da tua pele de pêssego.
Juntos, iríamos passar tinta, comemorar
E colorir todos os sonhos do mundo.
Poema de Kátia Canton, ilustrado por André Davino

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Picasso

Picasso

Ilustração: Biry
Ilustração: Biry
Picasso
Desde pequeno
Fazia troça
Com traços

Parece piada,
Mas dizem que é pura verdade
A primeira palavra que disse foi:
“Lápis”

E zapt!
Não parou mais
Desenhava as touradas da
Espanha,
Cavalos, bonecas
Menino levado

Cresceu,
Foi pra Paris
Impressionado com a cidade,
Registrou tudo que viu

Mas um grande amigo partiu
E com ele as cores
Sobrou o azul
Quadros de dores

Logo conheceu uma moça
Na tela branca
A paixão vermelha
Corou de rosa sua paleta
Mas a fase mais engraçada
Foi a cubista
Picasso embaralhou as formas
Brincou com as normas

Cubismo
Mosaicos
Caquinhos
Pedaços

Na época
Foi aquele estardalhaço
Desenhou perfil de frente
Pôs bumbum no lugar dos braços
Fez tudo diferente

Arte não é fotografia
Que registra o modelo real
tal e qual

Na tela
A imagem que fica
É Picasso e
Não tem igual
Poema de Adriana Abujamra Aith, ilustrado por Biry

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Morada do inventor

Morada do inventor


Ilustração: Alessandra Kalko. Foto: Marcelo Guarnieri
Ilustração: Alessandra Kalko. Foto: Marcelo Guarnieri
A professora pedia e a gente levava,
achando loucura ou monte de lixo:

latas vazias de bebidas, caixas de fósforo,
pedaços de papel de embrulho, fitas,
brinquedos quebrados, xícaras sem asa,
recortes e bichos, pessoas, luas e estrelas,
revistas e jornais lidos, retalhos de tecido,
rendas, linhas, penas de aves, cascas de ovo,
pedaços de madeira, de ferro ou de plástico.

Um dia, a professora deu a partida
e transformamos, colamos e colorimos.
E surgiram bonecos esquisitos,
bichos de outros planetas, bruxas
e coisas malucas que Deus não inventou.

Tudo o que nascia ganhava nome, pais,
casa, amigos, parentes e país.
E nasceram histórias de rir ou de arrepiar!…
E a escola virou morada de inventor!
Poema de Elias José, ilustrado por Alessandra Kalko. Foto de Marcelo Guarnieri

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Andarilhos

Andarilhos

Ilustração: Ivan Zigg
Ilustração: Ivan Zigg
Andava pela estrada, sozinho. Um sol de rachar e os dois andando, sem parar. E andando, resolvidos, iam os três desenxabidos.

Os quatro não andavam à toa: buscavam uma terra boa.

Com os pés doendo de tanto andar, os cinco pararam para descansar.

E os seis se deitaram, dormiram, sonharam...

No meio da noite, os sete acordaram e se arrepiaram.

Dezesseis olhos arregalados, brilhando, viram o rio iluminado, o chão iluminando.

Cavando a terra, dezoito mãos traziam, com a respiração ofegante, dezenas de pedrinhas brilhantes.

Depois de muito cavar, contar e reunir, os dez começaram a discutir.

O centro da discussão era este: onze andarilhos podem suportar tantos brilhos?

Uma dúzia de idéias diferentes, uma ou outra interessante, mas nenhuma idéia brilhante.

Com as palavras doendo de tanto falar, os treze resolveram si-len-ci-ar.

Deitados, silenciosos, os catorze buscavam uma nova rima, quando olharam para cima...

Boquiabertos, ao som de quinze admirações, descobriram estrelas candentes, candentes em grandes porções e proporções.

E aquelas dezesseis imaginações tropeçaram nas mesmas conclusões...

“As pedras são farelos de estrelas”, dezessete vezes pensaram e dezessete vozes exclamaram.

E declararam os dezoito andarilhos, acostumados a vagar de déu em déu: “Essa terra tem parentesco com o céu”.

E dezenove caminheiros decidiram fincar o pé e se estabelecer: “De agora em diante, aqui vamos morar, aqui vamos viver”.

Vinte vezes festejaram, quando uma voz desfestejou: “Continuarei caminhando. Adeus. Já vou”.

E deste que se foi, ligeirinho!, posso dizer apenas que ele.

Andava pela estrada, sozinho.
Prosa poética de Francisco Marques (Chico dos Bonecos), ilustrada por Ivan Zigg

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Quadrilha da sujeira

Quadrilha da sujeira

Ilustração: Nika Santos
Ilustração: Nika Santos
João joga um palitinho de sorvete na
rua de Teresa que joga uma latinha de
refrigerante na rua de Raimundo que
joga um saquinho plástico na rua de
Joaquim que joga uma garrafinha
velha na rua de Lili.
Lili joga um pedacinho de isopor na
rua de João que joga uma embalagenzinha
de não sei o que na rua de Teresa que
joga um lencinho de papel na rua de
Raimundo que joga uma tampinha de
refrigerante na rua de Joaquim que joga
um papelzinho de bala na rua de J. Pinto
Fernandes que ainda nem tinha
entrado na história.
Poema de Ricardo Azevedo (extraído do livro Você Diz que Sabe Muito, Borboleta Sabe Mais, publicado pela Fundação Cargill), ilustrado por Nika Santos

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Samba do Approach

Samba do Approach

Mostre como nosso vocabulário incorpora expressões originárias de outros idiomas

Ilustração: Fido Nesti
Saiba que eu tenho approach
Na hora do lunch
Eu ando de ferryboat

Eu tenho savoir-faire
Meu temperamento é light
Minha casa é hi-tech
Toda hora rola um insight
Já fui fã do Jethro Tull
Hoje eu me amarro no Slash
Minha vida agora é cool
Meu passado é que foi trash

Fica ligada no link
Que eu vou confessar, my love
Depois do décimo drink
Só um bom e velho engov
Eu tirei meu green card
E fui pra Miami Beach
Posso não ser um pop star
Mas já sou um nouveau riche

Eu tenho sex appeal
Saca só meu background
Veloz como Damon Hill
Tenaz como Fittipaldi
Não dispenso um happy end
Quero jogar no dream team
De dia um macho man
E de noite drag queen
 
Letra de Zeca Baleiro, ilustrada por Fido Nesti