sábado, 3 de dezembro de 2011

Sozinha

Sozinha

Ilustração: Fábio Cobiaco
Ilustração: Fábio Cobiaco
Sozinha, coitada.
Nunca estava acompanhada.
Pega-pega, sozinha não tinha.
Queimada, sozinha não dava.
Então, ela sentava a pensar.
Mas estava tão sozinha que
nem pensamento vinha.
Se Sozinha assim estava,
mais sozinha ia ficar,
Porque o S da Sozinha resolveu
se mandar.
Mal Ozinha se deu conta, o O
aproveitou o embalo e saiu rolando.
Desolada, sentia-se uma zinha qualquer.
“Ô, Zinha”, disse o Z.
E zapt, fugiu ligeiro, deixando
Inha para trás.
“Inha, Inha, inhaaaá!” Desandava a chorar.
Chorava, chorava até a lágrima secar.
E agora, o que fazer?
Olhou para um lado.
Olhou para o outro.
Para lá, para cá.
Até que seu pé se animou. Levantou
a Inha e se pôs a sambar.

Ali de cima, os olhos de
Inha observavam o seu pé,
que sacudia e sacudia.
E sacudindo contagiou o joelho,
que remexeu a coxa e fez
o bumbum rebolar.
Do bumbum para a barriga
foi um estalo.
Os ombros, que não são bobos,
entraram logo no embalo.
Quando Inha percebeu, do pescoço
para baixo estava um grande alvoroço.
Só faltava a cabeça. Então a boca disse:
“Entre na dança.” Êba! Vamos lá!

A alegria era tanta que atraiu muita
gente. E todos os pés ali presentes
convenceram seus donos a participar.
Inha estava contente, mas tão contente,
que nem se lembrava mais do tempo
em que tinha um S, um O e um Z,
que a deixavam Sozinha.
Deles queria distância. Mas não
entendam mal. O S para um samba,
o O num oi e o Z para um ziriguidum
seriam sempre bem-vindos.
Poema de Adriana Abujamra Aith e Ieda Abbud, ilustrado por Fábio Cobiaco

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